A queixa ou a suspeita de se estar com anemia é corriqueira no consultório do Reumatologista, mas nem sempre tem a atenção que merece. Muitas causas diferentes podem levar a anemia nesses pacientes. A mais lembrada pelos pacientes é a anemia ferropriva, que ocorre por deficiência de ferro. E não raro, recebemos pacientes com anemia, mas sem evidência nenhuma de que seja devido à carência de ferro, mesmo assim tomando sulfato ferroso e polivitamínicos. É bem verdade, que ela é muito comum, e deve ser pensada e excluída pelo médico. Mas, existem outras causas e uma especificamente relacionada ao reumatismo que deve sempre ser considerada. A anemia secundária à inflamação, chamada de anemia de doença crônica.
Normalmente, a anemia causada por deficiência de ferro ocorre por perda de sangue, sangramentos, como por exemplo, pelo estômago e intestino. E o risco aumenta quando o paciente faz uso crônicos de anti-inflamatórios e corticoide. A falta de ferro no organismo, seja porque o individuo ingere pouco, ou porque o que ele ingere não consegue ser absorvido, também é comum. Como ocorre, por exemplo, na gastrite autoimune, doença inflamatória intestinal e doença celíaca, condições mais prevalentes em quem tem doença reumatológica. As deficiências de ácido fólico e vitamina B12 também são sempre investigadas se tivermos alguma “pista” no hemograma que isso possa estar ocorrendo.
Outra causa sempre considerada pelo Reumatologista é a possibilidade de alguma medicação estar gerando essa anemia. O corticoide, anti-inflamatórios, tofacitimibe, azatioprina e metotrexato, por mecanismos diferentes, podem levar a anemia. No lúpus, por exemplo, a anemia pode ser causada de forma autoimune pela própria doença. Caso o paciente evolua com insuficiência renal, a perda do estímulo à formação das células vermelhas, de uma substância chamada eritropoietina, também pode ocorrer.
Bem, mas como ocorre essa tal anemia da doença crônica? A anemia pela inflamação não ocorre apenas em doenças reumatológicas. Ela pode acometer qualquer individuo que tenha uma doença inflamatória sistêmica e que permaneça nesse estado, “inflamado”, por muito tempo. Esse tipo de anemia ocorre porque não conseguimos “mobilizar” nossos estoques de ferro disponibilizando ele no sangue. Além disso, a absorção e reciclagem do ferro em nosso organismo também é prejudicada. Ou seja, até podemos ter ferro em quantidades satisfatórias, mas as substâncias inflamatórias circulantes impedem que ele seja usado. E é por isso, que não adianta dar mais ferro para o paciente. Ele continuará “preso” nas células sem poder ser usado...
O Reumatologista sempre está atendo e vigilante quanto a possibilidade de seu paciente estar desenvolvendo anemia. E quando isso ocorre, sempre investigamos, de acordo com as características de cada paciente, a possível causa. Um “simples” hemograma já pode nos trazer várias informações e excluir ou incluir várias causas na nossa investigação. E quando se faz necessário, realizamos outros mais específicos para complementar. Lembrando que um paciente pode ter não só uma, mas várias causas juntas de anemia. No caso na anemia de doença crônica o principal tratamento é, na verdade, tratar a doença que está causando a inflamação. A medida que a inflamação diminui, os estoques de ferro são liberados para o sangue e tudo vai voltando ao normal.