É surpreendente e instigante a capacidade dos microrganismos de se adaptarem, permitindo-lhes assim, fugir do nosso sistema imunológico e de medicamentos dirigidos a eles. Já falamos da clamídia e hoje nossa protagonista é a Borrelia burgdorferi .
Essa bactéria gringa, responsável pela doença de Lyme é transmitida aos humanos americanos por carrapatos gringos. Mas, ao chegar a terras tupiniquins, encontrou um “carrapatinho brasileiro” e tratou logo de se adaptar ao “clima local”. Sabe-se que as borrelias são especialmente experts em adaptar-se às diferentes condições de sobrevivência pela grande capacidade de suprimir ou expressar genes. Nossos exímios pesquisadores já verificaram que ela sofreu várias alterações genéticas, que além de modificar sua aparência, também modificou um pouquinho como a doença se manifesta aqui no Brasil.
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Bem, por aqui, essa zoonose se mostrou com características microbiológicas, clínicas, terapêuticas e evolutivas bem diferentes de sua coleguinha americana. E assim, hoje é chamada de Doença de Lyme símile brasileira ou Síndrome de Baggio-Yoshinari, que eu pessoalmente gosto mais, já que faz uma justa homenagem aos nossos super pesquisadores. Estes, especialmente no centro de referência da USP, continuam em um trabalho árduo para descobrir o melhor método de detecção da “nossa” bactéria.
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Ela é transmitida por alguns tipos de carrapatos encontrados em animais domésticos como cães, bois, búfalo, cavalos, capivaras entre outros. E após ser picado por carrapatos contaminados, o paciente desenvolve em cerca de 50% das vezes uma mancha na pele, bem característica, redonda, vermelha e com centro mais esbranquiçado, chamada de eritema migratório. Ele pode durar de poucos dias a meses e surgirem outras lesões semelhantes próximas. Nessa fase, se o paciente for adequadamente tratado, a cura pode ocorrer em 75% dos casos. Ao contrário, se os antibióticos forem administrados tardiamente, após três meses de evolução, apenas 25% tem cura. Mas, o que tem essa doença de tão importante para o Reumatologista?
A Síndrome de Baggio-Yoshinari é uma doença considerada pelo reumatologista em determinados locais e quadros de artrite e outros sintomas em seus pacientes. Os casos adequadamente tratados nessa fase aguda são curados. Mas, ao contrário, se os antibióticos forem administrados após três meses de evolução, apenas 25% tem cura. E os pacientes não curados tendem a apresentar recorrências (quadros repetidos) das lesões de pele e podem desenvolver sintomas na articulações, neurológicos, oculares e cardíacos. E essa é a principal diferença entre a espiroqueta brasileira e a borrelia gringa.
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A ARTRITE, especialmente em grandes articulações como os joelhos, pode ocorrer em 35% dos casos, após semanas, meses ou anos do contágio.
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Manifestações neurológicas ocorrem em até 35% dos pacientes, como meningite, inflamação dos nervos, raízes nervosas e medula, como Síndrome de Guillain-Barré, por exemplo. Incluindo a síndrome da fadiga crônica.
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Além de distúrbios psiquiátricos como depressão grave, paranóia, esquizofrenia, tentativas de suicídio e inadequação escolar e ao trabalho.
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Distúrbios cognitivos que incluem diminuição de memória, dificuldade de expressão, distúrbios do sono, dificuldades de concentração, memorização ou raciocínio podem ocorrer.
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Outras manifestações, presença de anticorpos e sintomas de doenças auto-imunes também foram relatados.
Atualmente, o emprego de antibióticos, por período mais prolongado, em média por três meses, é recomendado em nosso país. As variadas complicações crônicas irreversíveis, principalmente as neurológicas e articulares, tornam o estudo e investigação dessa síndrome tão importante. Ainda encontramos muitas dificuldades em diagnosticar essa doença. E o número de pessoas portadores desse mal é provavelmente muito maior do que imaginamos. É por isso que nós Reumatologistas estamos de olho no carrapato!