EXERCÍCIO FÍSICO MELHORA OU PIORA A DOR?

Bem, a resposta para essa pergunta parece simples, mas depende do “ponto de vista”:

 

Médicos (formados ou não): Melhora! Vamos lá, olha a motivação!

Médico Reumatologista: Melhora! Olha, no começo vai doer um pouquinho, mas logo melhora...

Paciente: Doí muito! Estou muito pior! Se esse médico tivesse a dor que eu tenho, duvido que ele me mandasse fazer exercício!

Ciência: Olha, pelo o que eu estou vendo aqui, todo mundo tem razão, de alguma forma.

 

 Pois é, quando se trata de dor crônica, principalmente quando falamos em fibromialgia, dor miofascial e dores nas costas crônicas todo mundo recomenda: Você precisa fazer exercícios...! E realmente, o fato dos exercícios físicos serem parte crucial da reabilitação do paciente com dor crônica está mais que estabelecido. Ajudando não apenas a diminuir a percepção da dor, mas com efeitos na saúde mental, como melhora do humor, redução do estresse e depressão.

 

 Mas, o exercício pode aumentar a dor do paciente, principalmente no início, e ser um fator importante na desistência do tratamento. O mecanismo pelo qual o exercício alivia as dores é amplamente estudado e difundido. Mas, e quando o paciente chega no retorno da consulta, depois de você contar as maravilhas que o exercício físico fará em sua vida e ele fala: “Dra., olha só, comecei aquele tal de pilatis, mas estou pior, doeu muito, acho que vou desistir...”. Bem, ai o médico tem duas opções:

 

1. Fingir que não ouviu, duvidar que está doendo tanto assim e aumentar os remédios de dor.

 

2. Usar a ciência para explicar como esse fenômeno ocorre, entender que realmente o paciente pode estar com muita dor e explicar a ele como e porque isso vai passar.

 

 

 Um artigo muito interessante, publicado esse ano na revista The Journal of Physiology por dois autores brasileiros, orientados pela pesquisadora Kathleen Sluka, nos elucida exatamente essas duas facetas do exercício físico. Vários experimentos comprovam a dor induzida pelo exercício, por meio da ativação dos receptores NMDA na áreas cerebrais responsáveis pela modulação da dor. Ok, então quer dizer que fazer exercício físico piora meu tratamento? Não. Os estudos realizados até agora, mostram que essa sensação de “piora da dor” no paciente que já é portador de dor crônica. Ocorre principalmente no início da prática da atividade e com exercícios mais “intensos”, que geram muita fadiga. E que isso depende muito do condicionamento físico prévio, tipo de exercício realizado e grau de dor prévia da pessoa.

 

 

 Mas, a realização de exercícios REGULARES progressivamente faz o “caminho contrário” e reduz o número desses receptores. Além disso, ocorre o aumento dos níveis de serotonina e substancia opióides em nosso cérebro que ajudam muito no controle da dor. Ou seja, trocando em miúdos, o Reumatologista sempre tem razão! Brincaderinha... Temos que ter em mente que no início a dor pode ocorrer, e que devemos respeitar nossos limites. Mas com paciência e ajuda profissional qualificada a regularidade do exercício realmente tem o potencial de tratar a dor de muitas condições dolorosas crônicas. Animou?

 

 

Fonte: Lucas V. Lima,Thiago S. S. Abner and Kathleen A. Sluka. Does exercise increase or decrease pain? Central mechanisms underlying these two phenomena.Physiol 595.13 (2017) pp 4141–4150.

   

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