Febre chikungunya e suas manifestações reumatológicas!

  A febre de chikungunya é uma virose causada pelo vírus chikungunya e transmitida pela picada de fêmeas dos mosquitos Aedes aegypti Aedes albopictusinfectadas pelo vírus. O nome chikungunya deriva de uma palavra na língua em Makonde, do sudeste da Tanzânia e norte de Moçambique.Significa “aqueles que se dobram”, descrevendo a aparência encurvada de pessoas que sofrem com a artralgia (dor nas articulações) característica da doença. Os sinais e os sintomas são muito parecidos com os da dengue – febre de início agudo, dores articulares e musculares, dor de cabeça, náusea, fadiga (cansaço) e exantema (manchas avermelhadas pelo corpo). A principal manifestação que as difere são as fortes dores nas articulações. Com potencial de evoluir com manifestações inflamatórias articulares e periarticulares crônicas, podendo ainda influenciar o curso e o tratamento de doenças reumatológicas prévias.

 

Como evolui da febre chikungunya?

 

  A doença pode evoluir em três fases: aguda, subaguda e crônica. Após o período de incubação de 3 a 7 dias em geral, inicia- se a fase aguda ou febril, que dura até o 14dia. Alguns pacientes evoluem com persistência das dores articulares após a fase aguda, caracterizando a fase subaguda, que dura até 3 meses. Quando a duração dos sintomas persiste após 3 meses, o paciente entra na fase crônica.

 

Como são os sintomas reumatológicos nessa doença?

 

 

  A artralgia, dor nas articulações, são típicas, tanto na fase aguda como na crônica. A inflamação com inchaço nas articulações também pode ocorrer. Geralmente afeta várias articulações ao mesmo tempo, de forma simétrica (por exemplo, ambos os pés). Afeta frequentemente mãos, punhos e tornozelos. Mas pode afetar cotovelos, ombros, quadril, joelhos, além de determinar entesopatias (inflamação nas enteses, local de ligação do tendão nos ossos). A inflamação e dor nas articulações pode seguir um curso persistente (sem melhora) ou intermitente (períodos de melhora e piora). Outros sintomas que podem aparecer em todas as fases da doença são dor nas costas, presente em até 30% dos pacientes na fase crônica, fenômeno de Raynaud (arroxeamento dos dedos) e a astenia (fraqueza generalizada). Nestas fases, algumas manifestações clínicas podem variar de acordo com o sexo e a idade. Exantema, vômitos, sangramento e úlceras orais parecem estar mais associados ao sexo feminino. Dor articular, edema e maior duração da febre são prevalentes quanto maior a idade do paciente.

 

A febre chikungunya pode causar artrite reumatoide?

 

  Como visto acima, o paciente pode se apresentar com sintomas muito semelhantes ao da artrite reumatoide, inclusive com positividade para o fator reumatoide (até 43%). Porém, não seria a doença propriamente dita, mas os mesmos sintomas causados por um fator desencadeante diferente. Isso já ocorre na Reumatologia com outras doenças, e contribui para a vida de detetive do Reumatologista. Entretanto, existem casos em que o paciente já apresentava a doença artrite reumatoide, porém silenciosa, o chikungunya causa um “start” na doença. Nesses casos, geralmente, podemos ter a positividade do marcador anti-CCP, mas especifico para artrite reumatoide que o fator reumatoide. Lembrando que o chikungunya também pode se apresentar com sintomas “parecidos” ou levar a espondilite anquilosante ou mesmo uma artrite indiferenciada.

 

Chikungunya pode ser uma doença muito grave?

 

 

  Embora o chikungunya não seja uma doença de alta letalidade (causa de morte), tem caráter epidêmico com muitos problemas relacionados a artralgia persistente, tendo como consequência a redução da produtividade e da qualidade de vida. Em comunidades afetadas recentemente, a característica marcante são epidemias com elevadas taxas de ataque (pessoas infectadas), que variam de 38% a 63%. A maioria, até 70% dos indivíduos infectados desenvolve sintomas.

 

Como pode ser realizado o tratamento dos sintomas reumatológicos?

 

  Ainda não dispomos de terapia antiviral específica para o chikungunya. O tratamento para os sintomas (febre, dor) com analgésicos e antitérmicos são o único recurso disponível na fase aguda da enfermidade. Nessa fase devem ser evitados os anti-inflamatórios e salicilatos (AAS). Hidratação adequada, repouso relativo e compressas geladas para reduzir a dor articular (evitar compressas quentes) podem ser utilizados.  

 

  Na fase subaguda podem ser utilizados anti-inflamatórios e outras medicações para tratamento da dor (anticonvulsivantes ou antidepressivos), nos casos refratários a analgésicos. Nos pacientes com dor musculoesquelética moderada a intensa ou naqueles com contraindicações ao uso destas medicações, é recomendado o uso de prednisona devendo a redução ser realizada de modo lento e gradual, de acordo com a resposta do paciente.

 

  Na fase crônica, além dos analgésico e corticoides em doses mais baixas de acordo com a necessidade, o uso de “antirreumáticas” como a hidroxicloroquina, metotrexato e sulfassalazina começam a ser utilizados. Com destaque para o metotrexato, que vem apresentando uma boa resposta nos casos crônicos em que o paciente tem dificuldade em ficar sem uso de corticoide. Com a observação da manutenção de intenso processo inflamatório nessa fase, novos estudos poderão indicar o uso de outras drogas modificadoras de doença, inclusive imunobiológicos. É recomendado tratamento fisioterapêutico em todas as fases da doença como medida complementar. As medidas para controle de mosquitos transmissores, proteção contra picada e notificação precoce dos casos ainda são as principais medidas para evitarmos esse mal.

 

  Os casos com sinais de gravidade (acometimento neurológico, instabilidade hemodinâmica, dispneia, dor torácica, vômitos persistentes, sangramento de mucosas e descompensação de doença de base) devem ser acompanhados com internação. E os pacientes que  evoluem para a forma subaguda e crôni necessitam de uma avaliação mais criteriosa do ponto de vista musculoesquelético, sendo importante avaliar na história clínica o tempo decorrido desde o episódio agudo e as características das lesões articulares. Dessa forma, a avaliação e acompanhamento pelo Reumatologista é muito importante para um acompanhamento especializado!