Depressão e o lúpus.

  O lúpus é uma doença inflamatória crônica, multisistêmica, de causa desconhecida e natureza autoimune. O sistema nervoso central é frequentemente atingido, gerando sintomas neurológicos e/ou psiquiátricos. Podemos identificar mais de 19 síndromes neuropsiquiátricas relacionadas ao lúpus, afetando 25% a 70% dos pacientes, como o estado confusional agudo, distúrbios cognitivos, psicose, transtornos de humor e de ansiedade. 

 

  Como o lúpus afeta o sistema nervoso central gerando depressão ou ansiedade, por exemplo? Essa pergunta não é simples, e está longe de ter sua resposta totalmente elucidada. O lupus pode causar isquemia (falta de suprimento sanguíneo) devida inflamação dos vasos que irrigam o cérebro ou trombose por anticorpos (por exemplo, aqueles relacionado a síndrome do anticorpo antifosfolípide - SAF). A inflamação por anticorpos dirigidos ao tecido cerebral e substâncias relacionadas a inflamação, além de variações hormonais, também podem ocorrer.

 

  Em alguns casos, a causa dos sintomas psiquiátricos pode ser o próprio tratamento. Como é o caso dos glicocorticoides, que podem gerar labilidade emocional, depressão e distração. Muitas vezes sendo difícil para o médico Reumatologista diferenciar se os sintomas estariam sendo desencadeados pela medicação, pelo estresse devido a doença crônica e incapacitante ou pela atividade da doença no sistema nervoso central.

 

  Quando falamos em doenças crônicas, principalmente as que associam a quadros dolorosos, a associação com depressão e/ou ansiedade deve ser monitorizada pelo médico e familiares. Não é diferente nos portadores de lúpus, doença crônica, muitas vezes com sintomas graves e estigmatizantes. Quase um de cada quatro pacientes com lúpus apresenta depressão e cerca de quatro de cada dez sofrem de ansiedade. Isto é o que afirma o estudo estudo publicado na revista BMC Psychiatry desse ano "Prevalence of depression and anxiety in systemic lupus erythematosus: a systematic review and meta-analysis". O estudo foi realizado por profissionais da Universidade de Nantong, China, que partiram da base de que os pacientes com lúpus estão expostos a um alto risco de depressão e ansiedade com sua prevalência estimada variando substancialmente entre os estudos. Motivo pelo qual o estudo procurou estabelecer estes níveis de prevalência. Os pesquisadores analisaram vários estudos já publicados até agosto de 2016, incluindo apenas os que apresentavam dados sobre depressão e/ou ansiedade em pacientes adultos com lúpus com um tamanho de amostra de ao menos 60 pacientes. Totalizando 59 estudos com 10.828 pacientes adultos com lúpus.Identificando-se uma prevalência duas vezes maior de depressão em pacientes com lúpus em comparação com a população geral.

 

  Estes achados destacam a importância dos cuidados com a saúde mental destes pacientes.O acompanhamento regular pelo médico Reumatologista, para manter a doença fora de atividade e baixo risco de desenvolver alterações no sistema nervoso central, deve ser constante. Assim como, o cuidado e atenção dos familiares envolvidos no processo, relatando ao médico qualquer sinal de depressão ou ansiedade, são muito importantes. O tratamento desses distúrbios, com ajuda de uma equipe multiprofissional (Psicólogos e Psiquiatras), possibilita uma melhora na qualidade da vida psicológica e mental desse paciente. Ajudando-o a vencer todas as dificuldades que essa doença poderá trazer ao longo de sua vida.