Nessa vida de Reumatologista nosso paciente raramente “lê o livro” e sempre chega no consultório com uma peça do quebra-cabeça faltando. Na síndrome do anticorpo antifosfolípide (SAF) não seria diferente. Não raro, temos pacientes que possuem critérios clínicos, mas quando dosamos os anticorpos pertencentes aos critérios laboratoriais para essa síndrome não encontramos nada... Nesses casos podemos estar diante da SAF soronegativa.
ㅤ
A SAF é uma doença sistêmica, autoimune, caracterizada pela formação de trombos em artérias e/ou veias, complicações obstétricas (como morte fetal e abortos espontâneos recorrentes), entre outros sintomas. Acompanhados pela presença persistente dos anticorpos antifosfolipídeos (aPL) – anticoagulante lúpico (AL), anticardiolipina (ACL) e anti-β2-glicoproteína I (anti-β2-GP1). Pacientes com sintomas de uma doença, mas sem exames “de sangue” positivos já é rotina para o Reumatologista. E algumas vezes escondido nesse rótulo de “doença soro negativa” descobre-se, após um tempo, doenças até então desconhecidas. Como já aconteceu com a artrite soronegativa que “escondeu” por longo tempo a artrite psoriásica e outras espondiloartrites.
ㅤ
Mas por qual motivo alguém teria SAF com os anticorpos negativos?
O diagnóstico NÃO é SAF, sim existem outras doenças que causam sintomas bem semelhantes.
Os anticorpos eram positivos, mas negativaram com o tempo. Sim, isso pode acontecer, mas é relativamente incomum.
E o mais provável, os aPL (AL, ACL e anti-β2-GP1) do “critério laboratorial” não são suficientes em alguns casos. Já que existem outros anticorpos antifosfolípides não incluídos como anticorpos aCL IgA, anti-β2-GPI IgA, anti-β2-domínio I, anti-complexo fosfatidilserina-protrombina, anti-fosfatidilserina, anti-fosfatidiletanolamina, anti-protrombina isolada. Além de alguns disponíveis apenas em ambiente de pesquisas e muitos outros ainda por serem descobertos.
ㅤㅤ
Mas muito cuidado... A avaliação atenta e perspicaz do Reumatologista é imprescindível já que esses “novos anticorpos” seriam ainda apenas “pistas” que precisam ser mais estudadas para que futuramente realmente façam parte desse quebra-cabeças.