IMUNOsemLÓGICA

Quem tem lúpus pode fazer tatuagens, colocar piercing, fazer preenchimentos? Recebo muito essa pergunta e para tentar responde-la precisamos compreender um pouquinho o funcionamento de nosso sistema imunológico. Todo e qualquer “substância estranha”, que chamamos de antígeno, que adentra nosso corpo é prontamente identificado pelo nosso sistema imunológico. As células do tipo macrófagos (que possuem diversos nomes, a depender do órgão que se encontrem) prontamente “abocanham” o invasor, processam suas proteínas e apresentam para outras células do sistema imune para que este monte uma reposta apropriada contra ele. Bem, já sabemos que diversos tipos de alterações, de origem genética e também devido fatores ambientais, “desregulam” profundamente a resposta imunológica do paciente lúpico. Sendo assim, o lúpus é uma doença imunológica, ou melhor, IMUNOsemLÓGICA nenhuma.

 

Quando realizamos procedimentos que provocam lesão em tecidos ocorre o “rompimento” de células e exposição antígenos próprios, ou seja, proteínas nossas mesmo. Nos pacientes lúpicos esses antígenos podem ser interpretados erroneamente como estranhos e desencadear uma reposta imune. Bem, o “tamanho” dessa resposta e onde o “estrago” pode aparecer são extremamente varáveis e dependem de múltiplos fatores individuais. Assim como o lúpus (#cadaborboletaeunica). E quando o procedimento além de lesionar tecidos ainda tiver “o plus” de inserir um “corpo estranho” (pigmento, silicone, etc.) aí coisa pode ser ainda pior. É realmente impossível de prever...

 

Temos diversos casos relatados na literatura com o surgimento de lesões de pele (lúpus discóide, lúpus subagudo, etc.) após diversa formas de agressões na pele sã de paciente lúpicos. Como, por exemplo, picadas de inseto, queimaduras, cicatrizes, herpes zoster e tatuagens. Chamado na Dermatologia como fenômeno de Koebner. Ele pode ocorrer também em pacientes portadores de psoríase, vitiligo, líquem plano, esclerodermia e sarcoidose. Mas dependendo da magnitude dessa lesão tecidual, uma grande cirurgia por exemplo, a resposta imune inflamatória poder ser grande com consequência sistêmicas e “ativação” do lúpus em outros órgãos. Por isso, quando são necessários procedimentos cirúrgicos estes devem ser realizados preferencialmente com o paciente em remissão clínica. Exceto, é claro, para as cirurgias de emergência, onde os benefícios suplantam os riscos.

 

E nuca cometa o seguinte erro: Mas Fulana fez e não deu nada! Ou ainda pior: Fulana, vai lá, faz sim! Eu tenho e fiz e não aconteceu NADA! É por isso que quando o paciente lúpico nos pergunta, com aquele brilhinho nos olhos: Dra. Posso fazer o procedimento X... Nossa resposta é quase sempre:  Melhor evitar!  #imunosemlógica